Emigrante. Precisa-se!

Fui a Londres. Como todos sabem há uma grande comunidade portuguesa a viver nesta cidade multicultural. Decidi, então, ir a um restaurante português para matar saudades de um bom bacalhau e um polvo à lagareiro. No restaurante estavam portugueses, ingleses e um grupo grande de asiáticos bastante “felizes”, provavelmente pela influência do nosso bom vinho.

A servir à mesa estava um senhor que já vive há onze anos em Inglaterra. Muito provavelmente não volta, nem com o desconto de 50% no IRS. Não percebo porquê, então “com o nosso sol”. Quem não voltaria? Ora, como estudante no Reino Unido, respondo. Não se volta porque em Portugal a nossa política não é feita a pensar no futuro, mas sim no presente. Esse sim, que dá votos no momento. Mas também não se volta porque essa história dos 50% no IRS é uma risada para quem vive cá fora. Para voltar não se pensam nos próximos três ou quatro anos, pensasse se vale a pena voltar para um intervalo de tempo maior. Que novidade, eu sei. Isto lembra-me quando vamos ao supermercado e vemos: “leve 3 paga 2”. No entanto, quando reparamos no prazo de validade, percebemos que acaba amanhã. Como se fosse possível beber três litros de leite num dia. Mas o mais importante é que tal como o “leve 3 paga 2” soa bem, também soa bem o “governo quer incentivar os emigrantes a regressar através de descontos no IRS”. No entanto, à semelhança de muitas outras medidas sugeridas por este governo, quando vamos ao fundo da questão não passa de um mero “clickbait” para parecer bem.

Continuando a minha experiência gastronómica, o dono do restaurante veio para cá há mais tempo. Começou a lavar pratos num restaurante e hoje é dono de um. É isto que distingue os emigrantes e é por isso que qualquer um de nós os deve admirar. Eles arriscam e saem da zona de conforto em busca de uma vida melhor, porque não se contentam com o “solzinho”.

Enfim, se querem os emigrantes de volta têm que mudar muito em Portugal e deixarem-se de querer soar bem, porque assim só convencem os ignorantes.

 

Este artigo de opinião foi originalmente publicado no Blog Beatriz.