Política de proximidade nacional

O desdém pelos políticos é, hoje em dia, crescente entre a população, desde as classes mais baixas àqueles com mais formação e nível económico. Este desdém está na base de vários problemas da situação política portuguesa.

A taxa de abstenção nas eleições para a Assembleia da República tem subido exponencialmente. Inquestionavelmente, esta deve ser uma das razões de preocupação dentro da nossa democracia representativa. A abstenção não vem como um protesto face à inexistência de candidatos que as pessoas apoiem, vem como um reflexo do desinteresse do povo em relação à política nacional. Para uma significativa parte da população portuguesa “os políticos são todos corruptos”.

Este tipo de comentários já foi ouvido por todos nós perante alguma observação política ou quando esse tema de qualquer outra forma vem à conversa, na minha opinião, esta ideia de que todos os políticos são imorais é outro grande problema. Muitos daqueles que favoreceram o Brexit usaram um argumento que vem de acordo com essa afirmação: acusaram a UE de ser apenas uma forma de oferecer emprego a políticos. No Brasil a eleição de Jair Bolsonaro foi, de certa forma, um voto de protesto ao PT e ao seu longo histórico de escândalos de corrupção. A recém-nomeada Procuradora Geral da República assumiu ter a luta à corrupção como uma das suas principais prioridades. Este discurso não só é perfeitamente razoável, pois esses crimes devem de facto ser combatidos, como também ajuda a diminuir essa opinião pública anteriormente referida.

Porém, o tema deste texto e solução a longo prazo para resolver o desprezo pela classe política é a política de proximidade. Não me refiro aos políticos andarem entre as multidões falando com as pessoas como se verifica nas autarquias, refiro-me a integrar as pessoas na atividade política, o que faz parte dos seus deveres e direitos como cidadãos.

Esta aproximação pode ser feita de várias formas, a primeira que já é extensivamente posta em prática é a dinamização das juntas de freguesia e dos órgãos locais dos partidos e juventudes partidárias (que por sua vez já são um método de incutir a atividade política nos jovens). As juntas desempenham um papel ativo na vida da população, especialmente na dos menos abastados e na dos idosos, pois ambos os grupos recebem apoio e frequentam eventos organizados por elas.

Outra forma de tornar a política um tema mais familiar à maioria dos portugueses passa pela juventude. Como em muitas outras mudanças de caráter cultural que se pretendam, os jovens em idade escolar são um meio de influência e um fim por si próprios. Quer interessa que influenciem adulto, como que eles próprios sejam afetados.

Para este objetivo já existem as juventudes, mas, independentemente disso, grande parte dos jovens continua ou a ter uma ideia negativa ou a não se interessar por política. Tendo isto em conta é de realçar o trabalho realizado pela UE através de duas principais áreas de ação. Através das redes sociais e através da criação de oportunidades de interação para os jovens. Dentro das redes sociais a UE promove várias publicações, assim como o PE e alguns dos seus deputados o fazem. Isso permite informar aqueles que não têm interesse em assistir a noticiários sobre vários assuntos dentro deste tema. Relembro-me agora de uma publicação promovida no Twitter pelo Sr. Eurodeputado José Manuel Fernandes que expunha a hipocrisia de Mário Centeno, assim levando a sua opinião até inúmeras pessoas, informando-as e suscitando interesse. As já referidas oportunidades de interação são, a meu ver, o mais importante. Oportunidades, por exemplo, de receber um inter-rail pela UE para quem tem 18 anos ou de responder a um inquérito sobre a situação atual da Comunidade Europeia demonstram que a organização em questão beneficia os seus cidadãos e preocupa-se com a opinião deles, desta forma praticando política de proximidade.

Esta política de proximidade não só leva a população a simpatizar mais com a atividade política, como a se sentir integrada nela. Se o Governo Português, ou mesmo os partidos que não estão de momento no poder executivo, tivessem ações semelhantes, a taxa de abstenção provavelmente diminuiria e, mais importantemente, as pessoas tornar-se-iam politicamente mais cultas e informadas. Esta última vantagem traz consequências, todas elas positivas, como combater o populismo e o extremismo (numa altura em que são cada vez mais comuns).

Por fim, apelo então ao PSD e à sua Juventude que estudem o método de ação da UE, pois essa é a verdadeira política de proximidade, e que apliquem os conceitos utilizados a nível nacional ou introduzam outros (como a obrigatoriedade da disciplina de ciência política). A atividade política devia fazer parte dos interesses de todos os portugueses.