Revolução viral: Aprender com a crise

O mundo tal como conhecemos, parou às mãos desta calamidade de saúde pública global, acabando por bloquear o modo como vivíamos até ao início de março deste ano.

A contenção desta pandemia é importante para que seja possível retomarmos as nossas vidas normais, por isso é essencial focar a importância de estar em casa.

Existem, no entanto, consequências por estarmos em casa, é imperativo começar a construir o dia a seguir à batalha com o Covid-19, porque esta “guerra” só se ganha em duas fases. A primeira fase é a erradicação do vírus, e a segunda fase, a reconstrução da economia e da vida em sociedade.

Para esta segunda fase é preciso envolver todos, desde a União Europeia ao Estado Português, aos trabalhadores e aos empresários das mais diversas áreas. É preciso que todos sejam solidários para conseguirmos ultrapassar as dificuldades que se avizinham. A solidariedade entre os povos, é muito importante, assim como estabelecer estratégias em conjunto e objetivos bem definidos, porque todos sabemos que depois deste episódio histórico, a vida em sociedade nunca mais vai ser a mesma.

Uma das mudanças a que assistimos nestas semanas de confinamento em casa, foi a uma mudança na forma como a comunicação social apresenta as notícias aos portugueses. Digo isto porque houve uma preocupação em transmitir a informação de forma factual e rigorosa, os jornalistas que dão a cara nas várias estações de televisão tornaram-se rostos de esperança, apesar das notícias serem muito duras, não só em Portugal como na Europa, e mais propriamente em Itália. Os jornalistas entenderam a necessidade que o povo português tinha de ser bem informado e houve uma clivagem com a tendência dos últimos anos, em que o jornalista se tornou um objeto de entretimento e não um veículo de informação.

O tempo político acompanha o tempo de dificuldade, a situação é de incerteza, não se sabe como vai ser o pós covid-19, sabemos sim que o nosso sistema económico está fechado.

Muitos vão ter a tentação de dizer que falhou, no entanto, a verdade é que o sistema capitalista não falhou. O que temos atualmente é a ausência deste sistema nas nossas vidas: não há produção, não há empregos, as nossas vidas são controladas e os direitos diminuídos.

Eventualmente estamos a vislumbrar o que poderia ser Portugal se o regime Comunista tivesse conseguido implantar-se no país.

A tentação em nacionalizar os meios de produção para manter à força os postos de trabalho, só vai contribuir para mais miséria, se uma empresa for proibida por decreto de dispensar trabalhadores por incapacidade de pagar salários, só tem a opção de abrir falência e multiplicar o número de desempregados.

Vejo com alguma apreensão que os funcionários públicos não vão contribuir para a crise, tal como todos os trabalhadores do sector privado, sentido de unidade é preciso.

Existe também uma cláusula no documento aprovado do Estado de Emergência que permite ao governo definir preços para os bens de consumo, o sistema de preços é construído livremente através da oferta e da procura, definir preços é dar cabo de cadeias de valor que o Estado não controla, o fim máximo desta medida é a escassez desses mesmo bens controlados, se o governo definir um preço de um bem X no supermercado, pode estar a criar um desiderato entre o preço de venda e o preço de custo do produtor.

É preciso segurar os complexos socializantes dos nossos governantes, o caminho não vai ser fácil, mas o que parece ser boa medida no imediato pode criar o caos num futuro próximo.

Deixo um conselho: num cruzamento, todos devemos olhar para a esquerda e para a direita e não só para um lado, a incerteza, aliada à miséria, e à incapacidade de os cidadãos conseguirem manter as suas responsabilidades, é um barril de pólvora capaz de projetar o pior da humanidade, já aconteceu no passado, é preciso acautelar o nosso Futuro.

É por isso que a maior arma para o pós-vírus é a nossa Democracia e a pluralidade de opiniões e ideologias, temos que salvar a nação e a Europa, mas isso não se pode fazer à custa de unanimismos, é nas divergências saudáveis que está o caminho para uma sociedade melhor.

Temos a oportunidade de aprender com a situação, a geração de que faço parte está habituada a ter tudo ao segundo, à distância de uma pesquisa ou um click, ou telefonema ou a simples utilização de uma app.

Hoje é fácil falar entre centenas de pessoas ao mesmo tempo, até ter aulas pelo computador e é igualmente fácil em poucas horas ir de uma ponta a outra do país, mas houve tempo em que não existiam estas facilidades a que estamos acostumados. Houve tempo que as mensagens demoravam semanas a chegar, as notícias do dia só vinham no Jornal do dia seguinte, o que acontecia do outro lado do mundo demorava dias para se saber cá.

Os processos demoravam, até a comida tinha uma sazão, o mundo está em casa e a casa passou a ser o mundo de toda a gente, as pessoas estão impacientes, porque tudo era ao segundo e a situação está a demorar bem mais que isso.

O pico da crise não está ao nosso alcance e não se sabe quando vai acabar. A tão desejada vacina ou a cura para o vírus pode demorar muito tempo, talvez anos.

Podemos tirar uma lição de tudo isto, a humanidade avançou rápido e tornou o difícil fácil, mas perdeu a paciência, por isso e apesar de custar, porque merecemos voltar as nossas vidas, há que ter paciência e confiança na nossa comunidade científica, nos profissionais de saúde, no Estado Português e na União Europeia.

É hora de dar um bocadinho de nós, antes de pensarmos em nós.