Turismo | A incerteza na recuperação do setor

O turismo constituiu e constitui um dos fenómenos mais importantes, senão o mais importante, dos séculos XX e XXI. Começou a desenvolver-se com a implementação dos caminhos-de-ferro e com a construção dos navios a vapor, e há que reconhecer que foi o povo do Reino Unido que iniciou este caminho.

Temos no nosso país “dois casos típicos de extraordinária vocação turística, a Madeira e o Algarve que foram revelados para o turismo actual pela mão dos turistas ingleses, sempre à procura do bom clima que lhes faltava na velha Albion”[1].

Sector crucial da economia Portuguesa, com um peso de cerca de 10% do PIB e 8% do emprego (para além de todo o peso indirecto e induzido que tinha e que continuará a ter no futuro da economia nacional), foi um dos primeiros a fechar portas. Em apenas 2 semanas, parou, fechou e não tem visibilidade de quando poderá voltar à actividade.

A recuperação no sector turístico será muito lenta, devido a vários factores. O primeiro, e que será uma incógnita de como sairá desta crise em termos económicos (com natural perda de poder de compra), é o mercado interno. Segundo, as naturais medidas restritivas e de controlo de saúde pública que serão exigidas pelas autoridades nacionais e pelos clientes (no ganho de confiança), que passarão por limitações nas ocupações das unidades turísticas e com isso a perdas de receita e a custos adicionais para fazerem face a essas novas exigências. Terceiro, a situação financeira em que as empresas do setor se encontrarão no fim desta crise e com que capacidade estarão para aguentarem toda a incerteza e responderem às restrições que irão perdurar no tempo. Serão os apoios disponibilizados pelo Estado (maioritariamente por via de nova dívida) suficientes? Quarto, o transporte aéreo como resistirá a esta crise e como será o seu comportamento aquando do levantamento das restrições agora impostas? Terão as companhias aéreas que todos conhecemos capacidade financeira para ultrapassar esta crise ou terão que recorrer a ajudas estatais e em que condições? Quinto, os mercados externos: quando poderão e voltarão a ganhar confiança para viajar? Aqui, os principais destinos portugueses poderão (por enquanto) contar uma boa história. Mas medidas na área da salubridade pública terão que ser tomadas e “vendidas” para que os nossos destinos sejam efetivamente reconhecidos pela sua segurança. Sexto, os operadores tradicionais e que são ou eram fundamentais para os destinos de verão (como Algarve e Madeira) vão continuar a trabalhar da mesma forma, ou o modelo de operação será diferente e também aqui teremos que percorrer um novo caminho de aprendizagem?

Contudo, estas incertezas obrigarão desde já o sector a se reinventar um pouco e a acelerar alguns processos que estavam em curso, nomeadamente em termos tecnológicos. No futuro breve, essa tecnologia ajudará na organização interna das unidades por forma a gerir os aglomerados de clientes, na interacção das equipas com os mesmos, no acompanhamento e monitorização das necessidades, experiência e satisfação dos que nos visitam. Ficaremos pois, com unidades mais sofisticadas, a dar mais respostas e de maior qualidade garantido também um incremento (da nova) segurança.

A comunicação com os mercados e clientes também irá sofrer alterações. Hoje não serão só comunicados factores do produto e/ou experiências das unidades e dos destinos, mas teremos que passar a comunicar as medidas e protocolos de segurança da saúde pública adoptadas (por exemplo em termos de limpeza, uso de máscara por parte dos funcionários e clientes, medição de temperatura, etc). E aí quem for mais além e antecipar a implementação destas medidas, terá uma vantagem competitiva.

A superação desta crise obrigará ainda, na minha visão, a uma postura de mais colaboração entre todos os agentes do sector para que os destinos possam ser ainda mais competitivos nos temas acima abordados, mas também na concretização de ideias que ajudem a mitigar, numa primeira fase, a perda de receitas e o aumento de custos por via das medidas que estão e terão que ser implementadas. Teremos talvez nesse campo, algumas fusões e aquisições (ou parcerias do ponto de vista comercial, financeiro, logístico, etc.) o que poderá ser uma boa notícia, principalmente no sector hoteleiro que é muito fragmentado e que dessa forma permitirá ter economias de escala, aquando do investimento em tecnologia e no digital que são hoje cruciais para o desenvolvimento dos negócios.

Inevitavelmente, nesta recuperação, o principal sinal tem que ser dado pelo mercado interno que vai estar mais ou menos capaz de responder, dependendo do tempo em que o país conseguir iniciar a sua retoma económica e normalidade social.

Todos teremos que ser, o que sempre fomos, Primeiro Portugal.

[1] In EPSD – Dr. Francisco Sá Carneiro | I Seminário – Turismo | Intervenção de Joaquim Pinto da Silva