Um Interior em aparente execução

São, ao dia de hoje, 226 as medidas que constituem a base de compromisso do Governo com o desenvolvimento do Interior do país. Das 164 iniciais, 146 dizem-se já executadas ou em curso, às quais recentemente se juntam mais 62. Com baste neste aparentemente excelente desempenho reformista por parte do Governo, deveríamos então assumir com algum conforto que grande parte do trabalho está feito? Agora é só esperar pelos resultados? Enquanto cidadão, a interpretação legítima que tenho feito do caráter desta campanha de reformas públicas levar-me-ia a responder que sim. Mas se nos debruçarmos perante o confronto “executado versus impacto gerado”, cedo se levantam algumas fragilidades a respeito desta narrativa. Para não se exaustivo, dou como exemplo a reformulação do programa de incentivos à fixação de médicos no Interior, ou o plano de modernização Ferrovia 2020, ou ainda a abordagem à atenuação do valor das portagens. Tudo ideias que importa, mais do que ter na primeira linha da agenda política, concretizar com ambição e infalibilidade de retorno para a região e, consequentemente, para o País como um todo. Para todos os efeitos, estas medidas estão executadas ou em curso. Mas, e na realidade, já se respira o dinamismo e a mobilização efetiva que se quer para o “novo Interior”? Diria que ainda estamos aquém da expectativa coletiva.

Desde logo, sublinha-se a dificuldade que parece existir, no seio da cultura governamental, em cumprir com os compromissos anunciados. Não faltam, na verdade, alicerces para pôr em prática as reformas necessárias à dinamização económica; falta, isso sim, materializar muita da produção intelectual que é feita. É assim há muitos anos: esgotamos o mérito no planeamento, quando a verdadeira mais-valia de toda esta linha de trabalho desafiante está na implementação efetiva destas “visões de futuro”. Não há imensa virtude em alcançar uma boa ideia. O crucial é colher dela alguma coisa de verdade e de proveito para o país.

Na JSD, assumimos para o mandato a convicção de que também podemos ter um papel a desempenhar e uma palavra a dizer neste sentido. Assim temos feito ao longo deste último ano, com o nosso Projeto Político “Agora, o Interior”, que comporta essencialmente um estudo segmentado de potenciais medidas benéficas para os grandes setores fundamentais do desenvolvimento do Interior. Nesse âmbito, dedicámos os últimos dois meses ao estudo e discussão dos amplos setores da Inovação, Empreendedorismo, Economia e Emprego, grandes áreas que fortemente se cruzam no seio do ecossistema dinâmico de mercado em que vivemos e o qual importa, naturalmente, promover e sustentar.

Feito o balanço dos trabalhos, destaca-se, também com base no que já referi acima, a urgência que existe em aproximar geograficamente o país, por via das redes públicas de transporte, nomeadamente a ferroviária. Se não queremos que prevaleça a tendência de mobilização permanente em torno dos grandes centros urbanos e das oportunidades, há que melhorar a acessibilidade entre esses grandes centros e a restante geografia e potenciar assim a verdadeira coesão territorial. Não podemos continuar com uma rede ferroviária do século passado, prejudicando a mobilidade, ou com as mais elevadas portagens do país, quando deveriam estar ajustadas ao PIB e alternativas viáveis de cada região, o que, só por si, originaria, por exemplo, uma redução de 50% na A23.

A par disso, as medidas propostas concentram-se em outros dois eixos prioritários: por um lado, otimizar o papel e o contributo das Instituições de Ensino Superior junto do tecido empresarial e dos planos locais de empreendedorismo e inovação social, definindo e potenciando pelo meio, e de uma vez por todas, a dicotomia universidade/politécnico; por outro, conceber, com devido suporte em evidência e pressupostos de sustentabilidade, a construção de infraestruturas disruptivas que alavanquem um considerável e duradouro dinamismo demográfico e económico em larga escala, que beneficie preferencialmente os territórios do interior. Se pensarmos de facto num futuro a longo prazo para estas regiões, é ilusório defender que “o tempo das infraestruturas já lá vai. Agora é preciso torná-las eficientes e geradoras de retorno económico e social”. Não, um medio e longo prazo prósperos implicarão certamente novos investimentos infraestruturais. Entre eles, a JSD identifica o potencial da construção de um aeroporto num ponto central de Portugal, com suporte de rede ferroviária ou rodoviária, bem como de um mega campus empresarial, construído, com base na canalização de fundos comunitários, num ponto estrategicamente favorável, e que resulte num estímulo grandioso para inspirar ao investimento posterior na vertente da inovação e empreendedorismo, bem como à gradual mobilização dos indivíduos com afinidade profissional para a sua periferia.

É imperioso que Portugal adote uma postura disruptiva e coloque de parte as pequenas medidas avulsas, que, sem coordenação e interligação, só resultarão em mais despesa mal alocada. A investir, o Estado deve focar-se nos setores prioritários, como a criação de Emprego, Mobilidade e captação de Investimento. Porque dele fará parte e porque para ele quer ativamente contribuir, a juventude cá estará para acompanhar, discutir e, se possível, complementar o rumo que gradualmente se vai apregoado para o futuro deste Interior e do País.