Velhas rotas não traçam novos caminhos

Segundo algumas definições comummente usadas, a cidadania é o confronto quer dos direitos, quer dos deveres de um cidadão num Estado. No entanto, a definição, que se aparenta básica, parece não ter efetivamente lugar ainda nos dias que se vivem – numa sociedade não preparada para a cidadania, é assim bem visível o facto de a maioria evidenciar nem saber quais os seus direitos e deveres.

Os resultados da abstenção nas Eleições Legislativas de 2019, evidenciam – além de um claro alheamento pela política – uma grande falta de senso por esses mesmos deveres. Ora, isto vem demonstrar que a nossa sociedade enfrenta um grande problema, que colocará em causa, no limite, a nossa democracia liberal.

Mas falar de problemas sem apresentar soluções, é aquele paradoxo de correr e continuar exatamente no mesmo lugar.

Sabemos nós que a educação, sendo um dos principais sustentáculos da vida humana, é, para muitos problemas, a solução. A educação, a meu ver, é o resultado da simbiose do meio (casa, família, estatuto social…) e da escola. Esta última é a base, pois deve colmatar as faltas do meio, por este ser aquele que, por vezes, se revela inconstante e instável.

No caso da cidadania, vemos que, na maior parte das vezes, esta não é cultivada em todas as suas vertentes, nem pelo meio, nem pela escola. À vista de muitos, no que respeita a direitos, aos deveres e todo o mais que surja relacionado com política, é algo que “eles” julgam desnecessário para os jovens. Não será esta realidade decisiva no futuro de todos nós? Nunca esquecendo que os jovens de hoje serão, neste rumo tão igual de condução da educação, os eleitores abstencionistas de amanhã. Provavelmente, tão iguais aos cidadãos dos dias de hoje – igualmente inconscientes, alheios e desadequados ao básico conceito de cidadania.

As soluções que foram apresentadas até hoje, para combater este problema, foram poucas, moderadas e sempre mal aplicadas.

Para começar, e para que tudo isto não seja em vão, é obrigatório restabelecer a confiança da população no sistema político, pois só assim as medidas tomadas poderão surtir algum efeito. Para isso, temos de tornar o sistema mais transparente e menos burocrático.

Depois dessa tarefa estar cumprida, afigura-se indispensável uma mudança no rumo da educação para a cidadania, dando aos estudantes as ferramentas necessárias para cumprirem os seus deveres e usufruírem dos seus direitos, em consciência. Tornando a escola, verdadeiramente e não apenas na teoria, um espaço de liberdade de pensamentos e ideias. Abrindo novos horizontes para os estudantes, que estarão mais preparados para cumprir os seus deveres como cidadãos e, assim, com maiores capacidades para tornar a nossa sociedade mais culta e mais crítica.

E porquê a urgência? Porque nunca devemos deixar para trás os nossos deveres como cidadão, sendo estes a base da nossa democracia e, assim sendo, a base do nosso quotidiano.

Talvez até se deva a esta “falta de educação” de que falo, as posições extremadas que se vêm surgir, tanto de esquerda como de direita, em democracias liberais – nalgumas daquelas que sempre foram tidas como referência – esquecendo toda a História, a mesma que se estuda, há tanto tempo, nas escolas.

No entanto, ao contrário do que muitos dizem, não vejo que exista um enfraquecimento no próprio sistema. O que existe é um baixo nível nacional de educação – até desmotivador – e uma falta de senso pelos deveres de cidadão.

Mais uma vez creio que o problema reside na educação e como já bem se sabe, em qualquer das mais diversas áreas, “velhas rotas não traçam novos caminhos”.