Entrevista a Carlos Seixas, Presidente da JSD Distrital de Aveiro

Carlos Eduardo Soares de Seixas, 30 anos, doutorado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, é professor universitário na Católica Porto Business School.

Atualmente é Deputado à Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira e Tesoureiro da Junta de Freguesia de Lourosa.

 

Como tem sido a experiência de liderar a JSD Distrital de Aveiro?

Uma honra e um desafio. Uma honra porque tenho a responsabilidade de liderar uma equipa extraordinária que todos os dias trabalha para defender os interesses dos jovens aveirenses e de ser a voz dos militantes da JSD do distrito de Aveiro. Um desafio precisamente pelo que acabei de mencionar, ser a voz dos militantes da JSD e defender os interesses dos jovens aveirenses acarreta um trabalho diário, que por muito que façamos, e acredito que estamos a fazer, será sempre pouco para aquilo que os nossos territórios e a nossa juventude merece.

 

Quais as principais preocupações da JSD Distrital de Aveiro?

Guiados pelo mote “Ao teu lado”, definimos a proximidade como valor chave do nosso trabalho. Assim, queremos dinamizar uma estrutura distrital, próxima das concelhias, dos militantes e dos jovens do Distrito de Aveiro.  Acreditamos que estando próximos das concelhias, dos militantes e dos jovens do Distrito de Aveiro, poderemos ter uma atuação política mais enquadrada com os seus reais interesses, procurando assim propor novas e inovadoras soluções para os diferentes problemas que afetam diretamente a juventude aveirense. E são estes problemas que são as nossas principais preocupações.

Um dos grandes problemas é sem dúvida a mobilidade. O distrito de Aveiro é limitado a norte pelo distrito do Porto, a leste pelo distrito de Viseu e a sul com o distrito de Coimbra. Os seus concelhos no extremo norte, como Arouca, Espinho, Oliveira de Azemeis, Santa Maria da Feira, São João da Madeiro ou Vale de Cambra, pertencem à Área Metropolitana do Porto, e sempre tiveram uma forte ligação socioeconómica ao espaço urbano do Porto. De modo análogo, temos o extremo sul do distrito que tem uma forte ligação à cidade de Coimbra, sendo que a Mealhada pertence à CIM da Região de Coimbra. Além disso, a zona central do distrito pertence à CIM de Aveiro, tendo como grande polo catalisador a nossa cidade sede. Isto significa que o nosso distrito é muito disperso em termos de polos económicos e urbanos, não existindo no mesmo uma verdadeira mobilidade interna. Para além disso, a própria mobilidade com os distritos vizinhos também carece de melhorias.

Outro dos problemas é o da emancipação jovem. Hoje, em Portugal 55% dos jovens com 30 anos de idade ainda se encontram a viver em casa dos pais. Dos que estão empregados, a média de remuneração situa-se abaixo da média salarial nacional. A taxa de natalidade em Portugal é a segunda taxa mais baixa da União Europeia, em resultado, também, desta problemática da emancipação, fazendo com que Portugal perdesse quase meio milhão de jovens na última década. Muitos deles que não estão desempregados encontram-se em situações de emprego precárias, em comparação com outros segmentos da população. Aveiro não é exceção à regra e a emancipação jovem no distrito não é uma realidade.

Finalmente, a temática das alterações climáticas. As alterações climáticas são, muito provavelmente a maior ameaça à humanidade no sec. XXI. No nosso distrito já começamos a sentir as consequências dessas alterações, sobretudo com as problemáticas da erosão costeira e dos fogos florestais.

 

Quais as prioridades dos jovens do Distrito de Aveiro?

Uma das prioridades para os nossos jovens é a necessidade de garantir que existam meios de transporte públicos e vias rodoviárias em ótimas condições, passiveis de serem utilizadas por todos os residentes do distrito, quer para os polos de atração mencionados na pergunta anterior, quer entre municípios. As vias de acessibilidade são um dos principais pilares para o desenvolvimento socioeconómico de uma região, e o distrito de Aveiro tem sido dos mais afetados pela falta de investimento público neste setor, prejudicando diretamente a vida dos jovens. Dada a complexidade geográfica do nosso distrito, é inexplicável que o acesso à capital do distrito por autoestrada se faz a preços exorbitantes, em especial para os residentes no norte do mesmo. Dentro da temática da mobilidade e da falta de investimento público não poderia deixar de dar ênfase à ferrovia. Aqui destaca-se o grave estado de degradação da linha do Norte entre Estarreja e Espinho e o investimento inexistente na linha do Vouga. Esta linha ferroviária atualmente serve tanto o norte como o sul do distrito e necessita de uma renovação urgente, aliás, já identificada pelas entidades competentes. No entanto, não pudemos deixar de verificar que diversos municípios do distrito têm sido prejudicados a vários níveis, nomeadamente ambiental e socioeconómico, devido à demora na resolução do problema. A Linha do Vouga, num distrito débil em mobilidade, conforme já mencionei, deve ser uma prioridade do governo, algo que não tem sido. Aliás, ainda recentemente as obras para a requalificação da mesma foram novamente canceladas.

Outra prioridade é a do emprego e do empreendedorismo. Os jovens deve ser encarados como um pilar estrutural na construção de um presente e futuro mais sustentáveis para as novas gerações, e, também por isso, o emprego e o empreendorismo devem serem considerados não apenas como uma ferramenta instrumental, mas como condição de realização pessoal e coletiva, completados por mecanismos, nomeadamente a habitação jovem, que permitam o desenvolvimento de um projeto de vida, com partilha de risco, solidariedade, oportunidades e liberdade de escolha.

Por fim, mas não menos importante, a prevenção ambiental também é uma prioridades dos jovens, sendo que, aos jovens do litoral é necessário a criação de medidas que impeçam a progressiva erosão costeira e subida da água do mar, e aos jovens do interior é necessário garantir a preservação da floresta evitando os fogos sucessivos que afetam o nosso distrito. Para ambos os casos, são necessárias medidas de conservação, sendo na sua maioria da responsabilidade das câmaras municipais, mas sobretudo medidas de preservação, em que o Estado Central tem um papel fulcral e onde tem falhado redondamente.

 

Qual o papel da Juventude Social Democrata na emancipação do jovem?

A emancipação jovem é um dos problemas que mais afetam os jovens atualmente, e os do distrito de Aveiro, em particular, como já mencionei. Esta problemática divide-se em duas grandes temáticas.

A primeira temática centra-se no emprego e empreendedorismo jovem. Para os jovens se efetivamente emanciparem tem de possuir uma fonte de rendimentos sustentável. Para isso é necessário a criação de incentivos quer ao emprego quer ao empreendedorismo jovem. Mas não basta a criação de emprego, é necessário que o mesmo se efetue em condições dignas. Estas condições não são apenas salariais, devendo ser possibilitado aos jovens uma vida que vai para além do trabalho, com um horário adequado, o que neste momento é um dos principais problemas que os jovens enfrentam e que prejudica a taxa de natalidade do nosso país (uma das grandes consequências da falta de emancipação jovem).

A segunda temática é a da habitação jovem. A emancipação só se completa com a saída de casa dos pais. Como já referido, Portugal tem uma taxa elevada de jovens que ainda se encontram a morar em casa dos pais. Para isto mudar é necessário a criação de estímulos para os mesmos poderem adquirir ou arrendar uma habitação.

A Juventude Social Democrata pode ter um papel fundamental sobretudo em sede da Assembleia da República apresentado projetos que promovam qualquer um dos vetores já mencionados. Também as estruturas locais podem junto do poder local apresentem propostas que incentivem a emancipação jovem, em particular na habitação jovem, onde as autarquias poderão ter uma maior capacidade para criar estímulos.

 

Quais serão os maiores desafios que a Juventude Social Democrata irá encontrar em 2020?

Um dos grandes desafios da JSD tem-se mantido ao longo do tempo, apesar de se ir renovando no seu conteúdo: defender os interesses dos jovens portugueses. Neste particular, penso que a defesa da emancipação jovem nas suas mais diversas vertentes tem de ser o principal foco. Da mesma forma as alterações climáticas devem ser uma temática em que nós devemos incidir no sentido de defender os jovens de amanhã.

Outro desafio prende-se com o combate à cada vez mais escassa participação dos jovens na vida política, nomeadamente através da militância em partidos políticos como é o caso do nosso. A juventude encontra-se desiludida com os fracassos da democracia portuguesa e está neste momento de costas voltadas para a participação cívica e política, envolta numa maré de indiferença que poderá tornar os tempos que virão, bastante complicados. E é dessa maré de indiferença que é necessária afastar da juventude portuguesa, promovendo a sua participação mais ativa na solução dos problemas da comunidade, pois só assim é possível construir uma sociedade mais justa, solidária e plural. Para combater esta indiferença é necessária a promoção da participação dos jovens nas decisões políticas do nosso município e do nosso país, e a JSD poderá ter um papel fundamental neste aspeto.

Neste particular, as eleições nacionais da JSD em 2020 poderão ser um passo para contribuir para aproximar os jovens à política. E nesse particular é fundamental que as eleições decorram sempre com elevação, procurando apresentar e, após isso, concretizar medidas que efetivamente cativem os jovens para a política, fazendo com que eles se revejam em nós.