Ontem, 28 de Janeiro, a Presidente do Youth of the European People’s Party, Lídia Pereira, foi a oradora no Almoço-Debate do International Club of Portugal com o tema “União Europeia: A Juventude e o Projecto de Gerações”.
Podes ler aqui a sua intervenção na íntegra:
Boa tarde! Muito obrigada pela simpática apresentação.
- Presidente do International Club of Portugal, Dr. Manuel Ramalho
- Distintos membros do Clube
- Senhores e senhoras Deputados
- Todos os dirigentes locais, distritais e nacionais sociais democratas e democratas-cristãos
- Distintos membros da sociedade civil.
Gostaria de começar por agradecer ao Dr. Manuel Ramalho pelo amável convite e pela mobilização. É meritório e por isso, nunca é demais sublinhar o esforço e o empenho daqueles que ativamente vão dando voz à juventude, que reclama legitimamente por espaço na sociedade.
E permitam-me dizer que antes de mim – como bem saberão – , já por aqui passaram outros jovens de relevo, de destaque e de referência nacional e internacional. Jovens como a Margarida Balseiro Lopes, Presidente da JSD e o Francisco Rodrigues dos Santos, Presidente da JP, ambas juventudes organizações membros do YEPP. Apesar de eu ser militante da JSD/PSD, é bom ver que os dois partidos – PSD e CDS – andam, normalmente, lado a lado
Também gostaria de agradecer a todos os presentes que optaram por este almoço e por me ouvir! Espero que seja uma hora proveitosa.
União Europeia: a juventude e o projeto de gerações.
Foi com toda a liberdade que pude escolher o tema… mas confesso que não foi tarefa fácil definir os principais eixos deste discurso.
Dado que incluí “gerações” no tema, estruturei esta intervenção de forma tradicional/convencional: entre o Passado, o Presente e o Futuro.
Tentarei dar a minha visão sobre a importância do projeto europeu para Portugal, os desafios trazidos pela crise financeira, a crise migratória e os consequentes problemas identitários que a Europa atravessa; terminando com as bandeiras políticas – que considero inadiáveis – , capazes de devolver aos cidadãos e sobretudo aos jovens a esperança e confiança num futuro promissor.
Passado
A entrada de Portugal na União Europeia, em 1986, revelou-se fundamental na estabilização e na consolidação democrática de um país que vinha de 40 anos de ditadura e fechamento, e de anos turbulentos que se seguiram à Revolução de 1974.
Portugal abriu-se à europa e ao mundo.
A promessa de melhoria das condições de vida, de salários mais altos, de mais escolas, hospitais empolgou o povo português e traduziu-se numa euforia generalizada. O entusiasmo era de tal forma arrebatador que nas primeiras eleições ao parlamento europeu a taxa de participação foi de 70% – que contrasta com os 70% de abstenção nas mesmas eleições em 2014.
Jacques Delors dizia que a Europa era como uma bicicleta: não podia parar porque senão caía para o lado. E assim foi: a europa continuou a crescer; o euro – a moeda única – tornou-se uma realidade; a comunidade económica europeia (CEE) deu lugar a uma União Política.
Tudo corria bem até que, de repente, somos assolados pela crise financeira de 2007/2008, de consequências gravíssimas.
A crise financeira abriu feridas e revelou fragilidades para as quais a EU ainda não estava preparada e o descontentamento com a europa cresce. A dimensão da crise trouxe à tona outros problemas e a crítica generalizada é que a europa não é eficaz:
- não é eficaz na crise do euro
- não é eficaz na crise migratória
- não dá uma resposta eficaz à crise de segurança
Por quê esta alegada ineficácia ou incapacidade de resposta?
Resulta da circunstância de, por um lado, a resposta a estas crises só poder ser europeia e, paralelamente, a política vai funcionando de forma fragmentada, em cada estado-membro, cada um dos quais, por sua vez, vai decidindo como se fosse autónomo.
Presente
Chegámos por isso ao presente.
A europa que, no início, justificava a sua existência como promotora da paz, solidariedade e prosperidade, vê-se hoje no rescaldo da crise financeira, a braços com uma crise migratória sem precedentes, que arrasta consigo um paradigma político – o populismo (!) – que, não sendo novo, ameaça a estabilidade, acorda fantasmas de um passado marcado por guerras e ódios, e desafia a democracia representativa tal como a conhecemos. Traz à discussão conceitos como democracia iliberal ou liberal, autoritarismo…entre outros.
É preciso refletir sobre a origem desta nova narrativa. De onde vem o populismo? Por que é que assuntos relacionados com segurança, fronteiras, imigração passaram a estar na ordem do dia? No fundo, por que é que a Europa se tornou tão impopular?
A minha análise é simples: enquanto a Europa registou crescimento/convergência económica, houve garantia de apoio popular à EU. Sucede que este modelo de legitimação da EU pelos resultados foi posto em causa com a crise financeira. É precisamente a circunstância da crise financeira que tem vindo tornar cada vez mais visível, um fenómeno que é anterior à própria crise, mas que se tem vindo a agravar: a globalização.
É inegável que a globalização tem gerado mais riqueza para o mundo. No entanto, essa riqueza é manifestamente assimétrica, ou seja, estamos perante um agravamento das desigualdades. É a desigualdade que agrava e extrema posições, numa rejeição das elites, que origina o populismo.
É preciso sublinhar que o fenómeno do populismo não é, contudo, exclusivo da Europa. Veja-se os exemplos dos Estados Unidos ou do nosso país irmão, o Brasil. Na Turquia e na Rússia desafia-se a democracia liberal; vive-se uma espécie de “ditadura da maioria”.
Finalmente, à semelhança de vários países europeus, também a questão da imigração se encontra no topo da agenda política norte-americana.
Futuro
Vemos que o mundo avança a um ritmo acelerado e temos, por isso, enormes desafios pela frente.
O futuro é amanhã!
A minha experiência no YEPP permite-me observar as diferentes abordagens que cada país assume relativamente ao futuro.
Nos congressos dos partidos políticos, e das juventudes dos mesmos, em que tenho participado, os temas são na grande maioria planos e discussões a médio/longo-prazo para cada país. (e.g. Fine Gael – Ireland 2040; Deutschlandtag – Alemanha 2030; Partido Popular – España 2030, etc.). Contrasta com a ausência de discussão e de uma visão estratégica de futuro para Portugal.
É com vista no Futuro que gostava de partilhar convosco as prioridades/bandeiras políticas do YEPP.
Sobre a participação jovem e o combate à abstenção.
Tenemos que convencer a los jóvenes con indiferencia por la política, de que la política puede ser altruísta y puede mejorar el mundo, dizia Mario Vargas Llosa no congresso do Partido Popular no fim de semana passado.
Uma das minhas preocupações enquanto Presidente do YEPP tem sido a questão da abstenção. O que aconteceu no referendo do Brexit, em que milhares de jovens se furtaram a ir votar, é sintomático de outros atos eleitorais e, portanto, é fundamental fazer campanha pela importância do voto junto dos mais jovens.
Como é que fazemos isso? É preciso, falar PARA os jovens. Quais são as causas da juventude hoje em dia? Alojamento, emancipação, emprego, independência, igualdade de género, alterações climáticas… Ora, é preciso que os partidos políticos falem destes temas, proponham soluções, para que os jovens se sintam incluídos e com razões para ir votar. Acho que isso não tem acontecido. As juventudes partidárias têm, de facto, feito alertado para estas matérias, mas não é suficiente.
É preciso, também, repensar a forma de fazer política. Costumo dizer que politics is people’s business. Estar próximo das pessoas, dos jovens; ouvir mais do que falar é, hoje, importantíssimo.
Veja-se o que o VOX em Espanha (partido que nasceu do PP) tem feito. Vai ao encontro dos jovens em bares, em bibliotecas e com eles, lado a lado, discutem política.
Tem uma presença ativa nas redes sociais e toda esta estratégia de fazer política tem sido eficaz.
É preciso revolucionar a comunicação, usar todas as plataformas disponíveis, porque é através dela que chegamos aos jovens, às pessoas.
Temos de falar claro, ter uma mensagem simples e dizer a verdade.
No que respeita ao combate às desigualdades, digitalização, mercado de trabalho, novo contrato social: é o desafio da década.
A política tem de vir primeiro. Um dos slogans do YEPP no passado foi moving forward leaving no one behind. Sabemos, por exemplo, que digitalização em Portugal, segundo o estudo da CIP recentemente apresentado, terá um impacto brutal no mercado e na força de trabalho, podendo fazer desaparecer 1.1 milhões de empregos.
Devemos ambicionar um país (uma Europa) digital e humanista que ofereça um futuro para todos e isso passa por investir no capital humano (em educação e formação ao longo da vida), apoio à transição, viabilização de tipos de trabalho mais diversificados.
O progresso técnico, a automação e a inteligência artificial estão a revolucionar a natureza do trabalho. Assistimos à introdução de novos modelos de trabalho (e.g. trabalho independente, gig economy) e a uma estagnação do rendimento nas economias avançadas, que tem um impacto negativo na capacidade de realização pessoal dos jovens. Não podemos ignorar este fenómeno e é fundamental garantir que temos políticas sociais em prática que captem os benefícios desta destruição criativa.
Se não pensarmos numa visão estratégica HOJE para enfrentar os desafios que esta mudança implica, as assimetrias, as desigualdades, os infoexcluídos certamente que aumentarão e a tensão e contestação social não tardarão. É por isso que a Educação é tão importante. Mas é pena que em Portugal em vez de discutirmos este futuro, optemos, por exemplo, por discutir a eliminação de propinas…
Alterações climáticas
Relativamente às alterações climáticas, sabemos que temos apenas um planeta. Não há planeta B, nem plano B.
Temos, por isso, a obrigação de gerir de forma responsável os recursos para as gerações futuras. As alterações climáticas e a sustentabilidade são desafios europeus que exigem respostas europeias. Devemos discutir a economia circular, definir metas para uma rede europeia de transportes baixa em emissões de carbono (e.g. ambicionar uma Europa totalmente dirigida por veículos elétricos em 2030). Este é um assunto da juventude!
Por exemplo, na semana passada, em Bruxelas, cerca de 35.000 jovens desfilaram num sinal claro de que este tema é uma prioridade.
Justiça interegeracional – intergenerational fairness
Vários estudos sugerem que os Millenials, a minha geração, vivem pior que a geração anterior, dos pais. E é verdade: veja-se a questão do acesso à habitação, estabilidade (ou volatilidade) do emprego, a incerteza das pensões e da idade de reforma. Todas estas variáveis devem pesar na responsabilidade política de discutir um novo contrato social.
Papel do YEPP
O YEPP enquanto maior organização política de juventude da Europa (representa cerca de 1 milhão de jovens europeus) quer liderar a discussão para um novo compromisso político intergeracional, quer ser a inspiração e a imagem de confiança para os jovens europeus. Internamente, o YEPP tem sido pioneiro na discussão destes temas. É fundamental garantir mais envolvimento de toda a sociedade e é urgente mais representação e participação jovem na política.
Temos de ir ao encontro dos jovens; estar onde eles estão.
A política nacional e internacional, fenómenos como o populismo, gilets jaunes, os novos problemas sociais, inevitavelmente, desafiam os partidos políticos e as instituições, que tardam em adaptar-se.
Eu quero viver numa sociedade promotora da igualdade de oportunidades e justiça social, realista, humanista, capaz de construir pontes. Uma sociedade com futuro. Sem excluir ninguém. Com todos.