O Costa quer, a Catarina sonha, mas a obra fica sempre por nascer

Esta segunda-feira Catarina Martins, aluna premiada de António Costa, foi à TVI para esclarecer algumas questões sobre a “Geringonça” e a posição do Bloco de Esquerda, nomeadamente na saúde. Ora, Catarina deixou claro que quer mais investimento público, que os funcionários públicos trabalhem menos e que que as pessoas paguem menos também. Catarina é como todos nós. Eu por exemplo sempre quis um Tesla, uma viagem à América Latina e um João Félix como forma de investimento. Só que como estudante sempre tive um problema: o dinheiro. Então tive de me ficar pelo carro dos meus pais e pelas poupanças.

Durante a entrevista Miguel Sousa Tavares questiona Catarina Martins sobre a redução do horário aos funcionários públicos para 35 horas (“Se já faltavam pessoas, diminuir o horário foi uma boa medida?”). Esta afirma que “os enfermeiros deste país foram-se todos embora e começam agora a regressar”. Eu tentei encontrar uma estatística que fosse de encontro à da líder do BE. No entanto, encontrei uma não só mais fiável, mas também mais realista. Segundo a Ordem dos Enfermeiros, 2018 foi o terceiro ano em que mais enfermeiros portugueses emigraram ou mostraram intenção de o fazer, estando no topo 2014, ano que Portugal estava a tentar recuperar de uma grave crise económica. Como recomendação pessoal diria à líder do Bloco de Esquerda que da próxima vez optasse não só pela verdade, mas também por frases se soassem menos a clickbait. Por exemplo, Catarina Martins afirmou “Quem é rico hoje tem sempre cuidados de saúde e quem não é rico não tem cuidados de saúde e nós queremos cuidados de saúde para toda a gente”. A verdade é que o SNS está em decadência e cada vez é mais incapaz de responder às necessidades dos cidadãos, independentemente do estrato social, levando os “mais ricos” a recorrerem ao privado e os “menos ricos” a ficarem reduzidos ao público e a não terem resposta do mesmo. Catarina desejou e prometeu um Portugal mais justo, mas aquilo que a “Geringonça” tem conseguido tem sido precisamente o oposto.

No entanto, a líder do BE deixou o melhor para o fim. Digamos que a sua grande punchline foi na sua resposta sobre se no futuro havia lugar para mais uma coligação com o Partido Socialista. Assim, esta afirmou com confiança “o que interessa é o voto das pessoas” e é nisto que as políticas do Bloco de Esquerda e de forma mais alargada da “Geringonça” se baseiam. Exatamente, naquilo que trará mais votos mesmo que à partida não sejam possíveis de serem realizadas. Catarina não quer um Portugal mais justo. Catarina quer mais votos à custa de passar a mensagem que deseja um país mais justo, mesmo que isso implique ser cúmplice do Partido Socialista que tem sido criticado até pela imprensa internacional pelas relações familiares no Governo que, segundo a mesma, aproxima o nosso país de outros de terceiro mundo.

Há uns anos Fernando Pessoa escreveu na sua obra a Mensagem “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Hoje, eu escrevo, o Costa quer, a Catarina sonha, mas a obra fica sempre por nascer.