Populismo e comunicação – Da reação à ação

Enquadramento e visão geral

A eleição de movimentos apelidados “populistas” já deixou de ser um epifenómeno. Não existem causas sócio-económicas comuns ao sucesso de todos estes movimentos. Se ponderarmos o coeficiente de Gini, a taxa de crescimento económico, a taxa de desemprego e o índice de corrupção 1compreendemos isso.

Tomemos por exemplo o Brasil de Bolsonaro, os Estados Unidos de Trump, a Itália de Salvini e a Hungria de Orbán.

No caso brasileiro e italiano as taxas de crescimento económico rondam 1% e as de desemprego cifram-se entre os 13% e 11%. Por outro lado, o coeficiente de Gini e o índice de corrupção já se encontram desfasados.

No caso americano e húngaro as taxas de crescimento económico são bastante positivas, o mesmo se passando com as taxas de desemprego. No índice de corrupção e no coeficiente de Gini os países encontram-se bastante afastados. Ora, não foi adotado nenhum método científico que nos permita aferir com grande acume que estes fatores de medição seriam os mais relevantes ou adequados. Na prática este pequeno exercício poderia ser apelidado de “junk science” na medida que com fatores reais retiramos ilações descontextualizadas. Por exemplo, a raíz do problema Húngaro não surgiu agora, mas sim com a crise de 2008.

Ainda assim, utilizando apenas estes fatores que as pessoas associam como causas para o surgimento de movimentos populistas podemos ver que em quatro países nenhum dos mesmos elementos se verifica em todos eles.

No caso americano as duríssimas consequências sofridas pela crise (o americano médio que recuperou o emprego fê-lo com um salário bem inferior ao período pré-crise) e alguma desindustrialização para países com custos de produção mais baixos; no caso húngaro as pesadas consequências da crise de 2008; em Itália a progressiva degradação do emprego, o descrédito nas elites políticas; no Brasil a corrupção que aparelhou todo o estado, bem como uma economia ainda em profunda crise.

O problema dos fenómenos populistas são, em nosso entendimento, dois: fatores de contexto e ausência de resposta satisfatória à auscultação.

Por exemplo, se um húngaro se queixar ou se demonstrar pouco disponível para acolher migrantes, não falta o arremesso das qualificações xenófobo, fascista ou toda uma outra série de insultos intelectuais. Na verdade, em nada a pessoa que lançou o problema se sentiu satisfeita ou respondida. In casu, será necessário que as pessoas encontrem espaço para exprimir os seus receios, sem que os policiamentos intelectuais as façam sentir menorizadas. No caso dos migrantes poderia ser explicado aos húngaros que os migrantes estão a fugir de situações de conflito horrível, que o projeto europeu sempre se pautou por uma enorme solidariedade e que devemos procurar que esses desprotegidos se integrem na nossa comunidade, respeitando os nossos valores europeus. Igualmente, que a sua posição geográfica os faz receber mais migrantes do que aqueles que estariam preparados para receber, mas que a União Europeia contribuirá financeira e logisticamente para que o processo se torne razoável.

 

Aplicabilidade da proposta

E, na nossa perspetiva, é precisamente neste ponto que a União Europeia falha e os movimentos populistas sucedem. Na comunicação!

A Europa tem de comunicar o bem que faz e como todos beneficiamos. Mas tem de o fazer de forma sedutora e irreverente, não de modo tecnocrática e densa.

Se tomarmos por exemplo as páginas de Facebook dos organismos da União Europeia percebemos que o número de pessoas que alcançam é muito reduzido. Como também conseguimos perceber que as pessoas que as seguem são os nossos amigos mais informados ou preocupados com questões políticas.

Adotemos o caso italiano. Ao invés de vozes com peso europeu extremarem posições com ataques à Itália e aos italianos (algo que só afasta ainda mais o objetivo pretendido) poderiam fazer info videos de como estava a Itália antes e após a adesão ao mercado comum. De como o mercado comum beneficiou Itália e vice-versa. Da importância dos italianos na identidade europeia. Ora, só com um sentimento de pertença positivo nós conseguimos agregar e motivar.

Mas não só. Além de ser necessário a alteração da reação é urgente uma permanente linha de ação. A quantidade de vídeos e testemunhos fantásticos que podem ser feitos e difundidos com os programas europeus como o “Erasmus”; a associação de atletas desportivos à marca europeia; a utilização de influencers para expor as vantagens da União é um caminho que precisa de ser tomado.

Que a Europa é fantástica para as nossas vidas, qualquer pessoa minimamente informada não o duvida. Mas o que nós precisamos é que ninguém duvide!

 

Artigo de Opinião realizado no âmbito do concurso “Uma Ideia para a Europa“.