Quando se discute sobre o setor imobiliário, especialmente sobre o ramo residencial, todos os caminhos vão dar à especulação imobiliária. É verdade que o preço das habitações nos centros urbanos está longe do alcance da maioria da população portuguesa. Contudo, parece-me bastante redutor refletir sobre este tema sem abordar conjuntamente a vertente da produção de tais ativos imobiliários. O debate em torno do preço das habitações tem de englobar outros setores, como o setor da construção civil, que creio não estar a acontecer pela inexistência de políticas nesse sentido.
O setor da construção civil está a passar principalmente por dois constrangimentos que estão a ter um impacto significativo no custo de construção e, por conseguinte, no preço final das casas. Por um lado, está a ocorrer um crescimento exponencial do custo dos materiais de construção e, por outro lado, existe de mão de obra, sobretudo especializada, insuficiente neste setor económico. Certamente, existem instrumentos de atenuação do primeiro constrangimento, contudo foco-me no segundo para o bem do leitor e da minha análise.
É claro para todos os stakeholders do setor que existe falta de profissionais nesta área. Para fazer face ao nível de procura de mão de obra dos últimos anos e ao grau de especialização adequado aos requisitos de qualidade construtiva que os clientes têm vindo a exigir, a quantidade e o nível de especialização da mão de obra existente são diminutas. Deste modo, se a procura é superior à oferta de mão de obra, o seu preço aumenta. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em agosto, o custo da mão de obra na construção dos edifícios residenciais novos em Portugal aumentou 4,1% face ao período homólogo anterior. Verifica-se ainda que esta variação tem sofrido aumentos consecutivos desde 2015, chegando a um valor recorde de 8,4% em abril de 2021. Adicionalmente, existe o incremento dos custos indiretos para os donos de obra, tais como diminuição de produtividade e dificuldade em cumprimento dos prazos das empreitadas, refletindo-se também no preço final das casas.
Após a crise que arrasou o setor da construção civil, muitos profissionais emigraram, traduzindo-se em muita mão de obra especializada a sair do mercado nacional. Todavia, poucos tem sido os jovens a ingressar e fazerem carreira em profissões deste setor. Cada vez menos, as novas gerações são atraídas para esta classe profissional pela sua conotação social negativa e pelo seu esforço físico, que se perceciona ser exagerado. Simultaneamente, a quantidade de mão de obra estrangeira disponível no setor reduziu, mobilizando-se para profissões com menor exigência física aparente ou inferior especialização.
Assim sendo, tudo se resume a um panorama de insustentabilidade do mercado de trabalho na construção civil com consequências graves para este setor e para os que dele dependem. Consequentemente, este paradigma provoca um notável, mas alterável, impacto no preço das casas, porém nenhuma ação política que altere este cenário se verifica. Por isso, humildemente questiono os decisores políticos: Para além da especulação imobiliária, não haverá outro modo de explicar e solucionar o elevado preço das casas, em Portugal? Lembrei-me de um! Que tal o da mão de obra do setor da construção civil?