Um dia de liberdade por ano

Há pouco tempo tivemos as celebrações do 25 de abril. Passados quase 50 anos desta data ainda assinalamos este dia com orgulho, como símbolo da liberdade de expressão, da força das pessoas e do fim de um regime que controlava e impedia os portugueses de irem mais além. É um dia que assinala os nossos direitos e os nossos deveres em democracia. Devemos fazer um balanço sobre como temos tratado esses nossos direitos e deveres.

Um direito e dever que nos foi dado, em 1974, foi o de expressarmos as nossas opiniões, ideias, críticas e soluções. Pergunto: Temos realmente cumprido com esse dever? Passamos as nossas ideias e necessidades aos responsáveis políticos? Temos verdadeiras alternativas políticas? Ou limitamo-nos a fazer os “mínimos olímpicos” das nossas responsabilidades sociais? Pergunto isto porque vejo uma realidade ou ilógica ou sobre a qual devemos refletir.

Desde 2015 que ouvimos notícias sobre a governação do nosso país, a nível nacional e municipal. Histórias como a gestão dos incêndios de Pedrogão, Tancos, colocação de familiares em cargos políticos, investigações a ministros, a gestão da TAP, o caso do Novobanco, a entrega de informações ao Kremlin, entre outras. Criticamos e dizemos que isto não é aceitável. E quando temos a opção de escolher um novo rumo para o país… damos uma maioria absoluta aos governantes que nos deram estas boas memórias.

Vejo três opções: ou não existem alternativas à governação que temos desde 2015, ou as alternativas são piores, ou não vemos esta governação como algo mau para o país.

Não acredito que esta última opção seja a visão do cidadão que ouve as notícias sobre o estado do Sistema Nacional de Saúde, da Segurança Social, do Ensino e da Defesa. Que paga os impostos e ouve que Portugal se encontra cada vez mais na cauda da Europa. Que encontra a burocracia, os processos morosos e as complicações da administração pública.

Por exclusão de partes, sobra a hipótese dos outros partidos não representarem uma mudança de rumo, ou a mudança que desejamos. Isto significa que nos esquecemos de cumprir com os nossos deveres. Não assumimos as nossas ideias, as nossas alternativas, as nossas soluções. Não exigimos, de verdade, mais aos nossos governantes. Não criámos, ao longo destes quase 50 anos de liberdade, verdadeiras alternativas políticas que sejam viáveis, desejáveis e credíveis. Temos de corrigir esse erro. Temos de trabalhar sobre as bases que abril nos deu. Para que Portugal tenha um presente e um futuro.